Crônica de acordar no meio da noite

O King Kong e o Godzilla ficavam atrás do diabo-tinhoso. Pareciam labradores esperando a ordem de ataque: piskpisk, pega! O diabo-tinhoso preparava-se para cuspir fogo e aquilo me acertaria. ― Foram eles? ― meu avô acendia a luz e espantava todos. As mãos de vô Zevíto pareciam garras e galhos secos. Achava que ele fosse meio bicho e meio mato. A velhice caía e tirava seu pedigree, mas ainda assim o velho tangia aquelas bestas para o inferno de que haviam escapado: o Godzilla, o King Kong e o diabo-tinhoso. Tangidos. Alguns dias o sono pesava em meu avô e eu ficava sozinho com os demônios escapulidos. ― Já disse para fechar os olhos, eles vão embora! ― meu avô esticava a mão apontando lonjuras. *** O quarto de minha filha é abafado e o ventilador gira para lá e para cá. A boca aberta mostra os dentinhos de coelho. Dali escorre um fio de baba que faz poça no travesseiro. Fecho-lhe a boca que volta a abrir lentamente. Com o que estará sonhando minha filha? Talvez uma poça de lama. Ela e