eu tomara ver
3
A
menina juntava os pedacinhos de sabão: amarelos, laranjados, verdes e azuis. A
menina acocorada na beira do riacho, esfregando sabão nas roupas, esfregando a
roupa contra os dedos, enxaguando, batendo a roupa contra o lajeiro, torcendo.
Acontecia de passar o sabão na roupa e um dedo escapar, relar no lajeiro,
sangrar. A menina mergulhava o dedo na água e a correnteza levava o sangue. A
filepinha de sangue, cobrinha de sangue, de nada. A Vó ficava dentro de casa,
entrevada. Ela e o escuro dentro da casa, serenando. A Vó abria a janela. A luz
doía na vista. Os olhos fechados abriam-se devagar, acostumando se ao clarão.
Lá em baixo, a vista da velha mirando, estava à menina, a neta. Coisinha de
nada que ela era de longe. De perto sentia-se pena da coisa de nada que ela
era. Piqueninha, magrinha que é só o osso. Dia desses a gente chega num doutor,
pergunta, pega receita e minha filha cresce, minha filha encorpa, fica maior
que eu, maior que a Vó. A menina chegava-se para a cerca de arame, estendia a
roupa. Recuava um passo, outro. Vote 25321 Joca Laurindo dep. Federal. A boca
da menina soletrando. O riso de quem sabia soletrar, de quem não sabia o
soletrado.