eu tomara ver
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Trazia lenha nos braços. Lascas de paus,
restos de cercas, galhos secos, gravetos. Os braços esticados, as veias dilatando-se,
o suor escorria no canto do olho. Dava uma vontade de coçar. Seria uma mão de
obra derrubar a lenha, coçar o olho, depois juntar tudo nos braços finos, os
braços: uns gravetos. Então ela piscava o olho. Piscava, piscava e a vontade
passava. Passava ou amenizava, ela nem sabia mais. A lenha entraria no fogão de
cimento. Ela mesma que faria o fogo. A Vó já havia ensinado. É uma menina
inteligente, a Vó dizia, minha filha é muito inteligente. Perguntava-se como é
que uma criatura parecia tanto com a mãe. Cara de uma, focinho da outra. Não é
assim que o povo diz? O povo fala muito. Tem coisa que o povo nem vê e fala.
Diz que viu, diz que vê. A menina rasgava jornais, tacava fogo, soprava na
lenha e ouvia a Vó. Já era pratica em fazer fogo. Inteligente. A Vó era só
admiração. Até quando pensava na morte, pensava na menina. Que se morresse a
menina já tomaria conta da casa. No dia que eu bater as pernas você não
esmoreça, bata no peito, viva. A menina jamais gostava da conversa da Vó. Pedia
que falasse dela, no tempo dela menina, deixasse o tempo de morte, esquecesse.
E enquanto a Vó lembrava o fogo pegava na lenha, a lenha chiava. Estalava.