8
Que
tédio, ela disse. Nada acontece, ninguém chega e ninguém morre. Ficou um tempo
sem pensar nada. Um tempo suspenso, só dela. Daí a pouco a ficha caiu. Plim.
Caiu. Quem é que não morreria, nem chegaria, nem morreria? E agora ela teve um
pouco de vergonha, lasquinha de nada, porque lastimar que ninguém morria era
certo indignar qualquer criatura. Ela se reprovou um pouco. Quem é que morreria
era uma bobagem. Por certo que era. Juízo menina, tapinhas na boca, juízo.
Olhou pro iphone, o net, o televisor. Tudo descarregado, sem área, sem energia.
Que tédio. Ficar só a luz do sol era um tédio. Ninguém não chega nunca. Os
dedos inquietos, vibrando para tuitar. #ninguémNãoChegaNunca, seria a frase
descolada, o tweet. E se tivesse chegado algum e-mail importante? Havia essa
preocupação. Nem lhe passava pela cabeça que ninguém lhe mandava e-mail.
Ninguém que fosse humano. Homo Sapiens-sapiens. Só havia os e-mails de lojas:
Submarino, Americanas, Ponto Frio, Magazine Luiza, Wal-Mart... E se perdesse alguma promoção? Agora nem era mais
o tédio que lhe tomava, era uma estaca de aflição entrando no corpo.
#voltaEnergia.