eu tomara ver
10.
De agora em diante o que eu serei? Ela
perguntava a mãe. As sobrancelhas arqueadas e um amargo nos lábios. Que serei?
Agora ela disse desafiante. Não era a mãe que tinha todas as respostas? Estude,
a mãe disse, estude e você saberá. A mãe sempre dizia, sempre mandava, até pelas
costas a mãe dizia: estude, estude. Ela entrava no google, buscava, buscava... Às
vezes ela imprimia, aumentava a letra e imprimia. Às vezes lia na tela mesmo,
aumentava a letra e lia. Preenchia o questionário, o site somava respostas, o
site concluía: aptidão para as artes, filosofia, sociologia, lidar com humanos,
comunicar, atender... Eram os testes vocacionais. Humanos, ora essa, humanos. Argh.
Dava-se melhor com máquinas, tecnologias, spans. A mãe chegava, ouvia as
lamurias, dizia que ainda havia tempo pra pensar, decidir o que seria da vida,
era jovem. Jovens são assim, essa coisa toda assim: sem jeito, faminta por nada.
Até gostava da filha buscando o que seria da vida, que faria. Queria mesmo era
que a filha fosse alguma coisa agora. Sendo agora na certa seria depois. Ela, a
filha, vivia buscando o depois. O agora ficava para depois.