eu tomara ver
11.
A menina não dormira direita aquela noite. A Vó
tossira, cuspira um sangue pastoso. Um aperreio. A menina que limpou o chão:
jogou água, esfregou o sangue coalhado. Uns pedacinhos que se prendiam ao chão
lhe exigiram mais força. Limpou. A Vó espanava com a mão, deixasse aquilo para
depois, ela mesma limparia mais tarde. Cuspiria e limparia. Dava um tempo e a
Vó adoecia. Tempinho de nada, ela adoecia. A menina já vivia com uma gastura no
pensamento, uma desconfiança. Era ela quem lavava a roupa. Chegava no rio, acocorava e lavava. A Vó não
pegava mais em água, adoecia. Nem carregava lenha, nem espantava os urubus com
carreiras e pedras no lombo. A menina passava e os urubus olhavam, lambiam os
bicos e olhavam. Aí agora era a Vó que tinha uma gastura, desconfiança de um
bicho daqueles voar na menina, cravar no pescoço. A Vó e a menina dormiam na
mesma cama. Uma para cima, outra para baixo. A menina para baixo, no canto da
parede para não cair, se estourar de uma queda. Dormia no canto da parede. Às vezes
batia a testa quando
sonhava agitado. Nessas noites era a Vó que não
dormia, medo de a testa da menina abrir e o sangue escapar da cabeça.