semente 2
Homem nenhum jamais saberá as dores do parto. O doloroso parir, jamais saberá. O mexido
das entranhas a fabricar menino. As forças internas, trabalhando,
moldando. Forjando. Disso tudo homem
nenhum saberá. Jamais soube. A gestante
originando pernas e braços para o progresso do
Brasil. Entre outras mil... Agora o
Brasil vai. De pequena que eu ouço. Vai que vai. O Brasil agora engrena. Agora é que a gente vai ser o país do futuro. O fruturo. És tu Brasil ô Pátria amada, idolatrada, salve, salve. Agora não tem pros gringos dos EUA, pros gringos da China; os olhos puxados, tudo igualzinho igualzinho,
pros gringos da Índia, do México. A Rússia nem
tá mais lá aquela coisa, os espiões, a KGB, uísque e tudo mais. Pois bem pois bem, não tem
mais pra ninguém ninguém. Sabe uma represa?
Ela cheia, ela já estourando, já esborrotando?
Pois a represa é igual à barriga gestante.
Mesma coisa. A gente guardando os pouquinhos
da criança. Os pouquinhos da criança se
juntando: barriga junta com pernas,
pernas com dedos, dedos com unhas. Barriga
junta com braços, braços com falanges. As
falanges enraizando no corpo. As falanges:
a fiação do corpo. Os ossos o concreto,
os ossos a ferração, os ossos o radier.
Ai a criança se forma. A criança se forma
e fica na porta da represa.