O bigode de Dali
Todo gênio que se preze, é louco! Se não for assim, estará ainda no rascunho. Existem os gênios e existem os intelectuais. São duas criaturas distintas. O Gênio cria luz! O intelectual acende a luz. Um faz! O outro explica o que foi feito. Um sopra! O outro cata-vento.
Salvador Dalí, um gênio
total, teve seu corpo exumado, recentemente. Abriram sua múmia e tiraram
dentes, unhas e cabelos para exames de paternidade. E, olha só, o excêntrico
bigode continua vivo, ereto e em horário de 10 pras 10. Surreal! Não há
Salvador Dalí sem o bigode. O bigode era as suas antenas de captar o outro lado
do mundo.
Por que haveríamos de esperar
normalidade, daquele que em vida só nos deu loucura? Por que em morte não
poderia fazer o mesmo? Untou o bigode em banha de porco e morreu.
Antes de morrer teria dito
para não o acordar. Imitemos!
Dalí, quando criança, queria
ser cozinheira. Não era cozinheiro. Era cozinheira, igual sua mãe e sua avó.
Suas irmãs e primas. Já era surreal ou não fazia juízo de gênero? Já era Dalí.
Brotando.
Na adolescência, se saísse as
ruas e não fosse notado, balançava um sino e gargalhava dos patrícios assustados.
Andava com um espelhinho para refletir os raios do sol nos olhos dos patrícios.
Dizia que os iluminava.
Foi, talvez, o único surrealista
de sangue. Os demais pintores foram imaginativos, devaneadores, grandes até. Mas
surreal a valer, só Dalí, que, embora morto, deixou o bigode vivo.