Ruindade
Não
falta neste mundo é gente ruim. Das de ter dejetos no sangue e chumbo na alma.
As de juntar lodo e ferrugem na saliva.
Gente
de sangue límpido e alma leve de fumaça, estão rareando. Estão elas a morrer de
última espécie.
E
era tão boa alma minha Avó. Falava com animais, com estranhos, com as paredes e
com Deus. Com Deus a conversa era maior.
Eu
tinha ciúmes de Deus que tiravam minha Avó pras conversas mais intermináveis.
Pei pei pei, pei pei pei. Era minha Avó papeando com Deus. Uma intimidade de
pareceiros.
Minha
Avó virou uma santa! A primeira santa gorda, brasileira e octogenária. Pregava
bondade e mansidão! Acolhia todos os animais que lhe colocassem na porta.
Famintos, remelentos, desamparados. A boa velha os cuidava igual a filhos.
Mas
você procure. Você fuce o que for de monturo e verá as demais gentes ruins
existindo. Saudavelmente ruins. Rosadas. Pançudas. Todas iguais a você e a mim.
Todas iguais e normais na aparência, mas com dejetos no sangue e chumbo na
alma.
Aí
a criatura se revela. Demônio que dormia nos ossos se levanta. Demônio é uma
pulga que vive dentro do coração. Toda vez que tem fome, morde um pedaço e
injeta mal querer nos leprosos.
Você tire uma pessoa chutar um animal. Uma cachorrinha que esteja prenha, os filhotes pesando na barriga. A cachorrinha a deitar no meio da rua, cansada, combalindo. O momento mesmo de parir. Você tire uma pessoa botar o carro na direção e acelerar.
(Imagem: Pinterest)