Remela
Erivania remelava em demasia. Doença nos olhos, ácaros no
colchão, poeiras... A crosta amarela pedrificava. Erivania passava o dedo e as
bolotas despregavam numa espécie de cócegas. Às vezes a remela supurava,
amolecida, aquosa. Era da vez que a mãe sentia o desleixo, vergonhava e,
olhando para os cantos, a saber se ninguém estava observando, limpava os olhos
da menina com a ponta da camisa. Nas crises, Erivania acordava com os olhos
pregados. Esforçava-se para abri-los numa trabalheira custosa o que a fazia
levantar, tateando a casa, até encontrar água da qual pudesse lavar os olhos
descascando a remela.
(Imagem: Antônio Henrique)